ELECTROCARDIOGRAMA

O electrocardiograma é um exame médico na área de cardiologia onde é feito o registro da variação dos potenciais eléctricos gerados pela actividade eléctrica do coração.
O exame é habitualmente efectuado por técnicos de cardiopneumologia, ou por médicos cardiologistas, sendo estes os dois grupos profissionais habilitados para o exame.



Bases Teóricas
O coração apresenta actividade eléctrica por variação na quantidade relativa de iões de sódio presentes dentro e fora das células do miocárdio. Esta variação cíclica gera diferença de concentração dos referidos íons na periferia do corpo. Elétrodos sensíveis colocados em pontos específicos do corpo registram esta diferença eléctrica.

Aparelhagem
O aparelho que registra o electrocardiograma é o electrocardiógrafo.



Indicação
O exame é indicado como parte da análise de doenças cardíacas, em especial as arritmias cardíacas.



Princípios fisiológicos
O aparelho registra as alterações de potencial eléctrico entre dois pontos do corpo. Estes potenciais são gerados a partir da despolarização e repolarização das células cardíacas. Normalmente, a actividade eléctrica cardíaca inicia-se no nodo sinusal (células auto-rítmicas) que induz a despolarização dos átrios e dos ventrículos. Esse registro mostra a variação do potencial eléctrico no tempo, que gera uma imagem linear, em ondas. Estas ondas seguem um padrão rítmico, tendo denominação particular.


Eventos do electrocardiograma

Onda P
Corresponde a despolarização dos átrios, e sua amplitude máxima é de 0.25 mV. Tamanho Normal: Altura 2,5mm, comprimento 3,0mm Hipertrofia atrial gera aumento da onda P

Complexo QRS
Corresponde a despolarização ventricular. É maior que a onda P pois a massa muscular dos ventrículos é maior que a dos átrios. Anormalidades no sistema de condução geram complexos QRS alargados.

Onda T
Corresponde a repolarização ventricular. Normalmente é perpendicular e arredondada. A inversão da onda T indica processo isquémico. Onda T de configuração anormal indica hipercalemia. Arritmia não sinusal = ausência da onda P

Onda T auricular
A repolarização auricular não costuma ser registrada, pois é encoberta pela despolarização ventricular, evento eléctrico concomitante e mais potente. Quando registrada, corresponde a Onda T atrial. A onda Ta é oposta à onda P.

Intervalo PR
É o intervalo entre o início da onda p e início do complexo QRS. É um indicativo da velocidade de condução entre os átrios e os ventrículos e corresponde ao tempo de condução do impulso eléctrico desde o nodo átrio-ventricular até aos ventrículos.

Período PP
Ou Intervalo PP, ou Ciclo PP. É o intervalo entre o início de duas ondas P. Corresponde a frequência de despolarização atrial, ou simplesmente frequência atrial.
Período RR
Ou Intervalo RR, ou Ciclo RR. É o intervalo entre duas ondas R. Corresponde a frequência de despolarização ventricular, ou simplesmente frequência ventricular.


Riscos
O exame não apresenta riscos. Eventualmente podem ocorrer reacções dermatológicas em função do gel necessário para melhorar a qualidade do exame.


Técnica
Para se realizar o exame electrocardiograma (ECG), o cardiopneumologista (CPL) (Também designado por técnico de cardiopneumologia) deve inicialmente explicar ao paciente cada etapa do processo. O ambiente da sala deve estar com temperatura agradável (nem muito quente nem muito frio). O paciente deve estar descansado há pelo menos 10 minutos, sem ter fumado há pelo menos 40 minutos, estar calmo. Deve ser investigado quanto ao uso de medicamentos que esteja a tomar, ou que costume usar esporadicamente. Com o paciente em decúbito dorsal, palmas viradas para cima, o técnico determina a posição das derivações precordiais (V1 a V6) correctas; em seguida é colocado o gel de condução nos locais pré-determinados, como sendo a zona precordial, e membros, são conectados aos electrodos do electrocardiógrafo. Às vezes é necessário uma tricotomia (corte dos pelos) em parte do precórdio, principalmente em homens. É então registado o electrocardiograma de repouso. Os sinais eléctricos podem ser vistos com um osciloscópio, mas geralmente são registrados em papel quadriculado. Correntemente existem electrocardiógrafos digitais, com relatório automático. No entanto deve ter-se sempre em conta que esses resultados devem ser analisados pelo cardiologista, pois muitas vezes esses aparelhos têm erros no algoritmo de diagnóstico.


Critérios electrocardiográficos de patologia cardíaca

Sobrecarga ventricular esquerda (SVE)
. Presença de critérios de amplitude ou voltagem para SVE: Recomendados índices de Sokolow Lyon e de Cornell.
. Indice de Sokolov-Lyon: onda S de V1 + onda R de V5 ou V6 >35mm;
. Índice de Cornell: onda R de aVL + onda S de V3 maior do que 28 mm em homens e 20 mm em mulheres.
. Aumento discreto na duração do complexo QRS às custas de maior tempo de aparecimento do ápice do R nas derivações que observam o Ventrículo esquerdo. Deflexão intrinsecóide ou tempo de activação ventricular (TAV) 50ms.
. Alterações de repolarização ventricular nas derivações que observam o Ventrículo esquerdo (D1, V5 e V6):
. Onda T achatada (valor na fase precoce);
. Padrão tipo strain: infradesnivelamento do segmento ST de convexidade superior e T negativa assimétrica.
. Critério indirecto de SVE: presença de onda P com componente negativo (final lento e profundo) na derivação V1 (critério de Morris): profundidade x duração mm x segundo 0,03mm/s.


Sobrecarga ventricular direita (SVD)
. Componente R do QRS de V1 e V2 de voltagem maior que o máximo para a idade (maior do que 7mm em V1 no adulto).
. S profundas em V5 e V6, com complexos padrão RS ou rS.
. Pequena onda q, seguida de R (qR) ou Rs (qRs) em V1 ou V1 e V2.
. Aumento discreto duração do QRS em derivações direitas, por aumento da deflexão intrinsecóide (50ms).
. Padrão trifásico (rsR’), com onda R' proeminente nas precordiais direitas.
. Ausência do aumento progressivo da voltagem do r de V1 a V3.
. Ondas T positivas em V1 entre os 3 dias de vida e os 6 anos de idade.
. Eixo eléctrico médio de QRS no plano frontal à direita de +110º, no adulto.
. Sinais indirectos para SVD
. Ondas P pulmonale - apiculadas e/ou acima 2,5mm de voltagem em DII, DIII e aVF;
. Eixo eléctrico médio de P à direita de + 65º.

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